segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

De quando se cai para cima

Estou aqui, ao relento. De todos os lados há apenas uma extensão enorme por meio da qual a minha visão se confunde, turvada e desfigurada pelo nada. E para cima, tampouco, não encontro nenhuma cobertura. Nada para além do azul infinito que me ameaça absorver, como se a tudo o mais pudesse engolir com talante assustador do deus empíreo. Tenho por isso medo de mirar ao alto, da amplitude que está dentro dele e que me desnuda com esse sarcasmo aniquilador.
A sensação que tenho é bastante forte, sempre foi, para me assustar. Mantenho com firmeza meus olhos pela terra, evito a curiosidade ou tentação de encarar o que me põe a descoberto... eventualmente acabo perdendo, eventualmente eu cedo e ergo meus olhos num ângulo reto para espetar essa imensidão de pavor. Logo depois, arrependido, cheio de tremor, busco a certeza sólida do chão...
Quantas vezes aconteceu assim: deitado num gramado enorme, possivelmente uma praça, um descampado entre um bosque, passeava meus olhos pelo céu resplandecente e azul. Num dado instante, paralizo-me com a percepção daquilo. Percepção inegável e bruta de que o infinito me engolirá, ou de que cairei para cima num contra-golpe da gravidade. E chego mesmo, quase sem esforço, a sentir-me livre nesse éter de puro espaço... lentamente, meu corpo se desprega da terra, da vida, dos dias... e eu irei, num deslocamento infinito e atemporal, afundar nesse oceano de coisa alguma que deve ser o espaço.
O meu impulso imediato era o de segurar-me nas raízes do gramado, cravando com as unhas e meus dedos ainda pequenos, aquela terra que a qualquer momento poderia me abandonar ao vazio do alto...
Ou então – o que ainda hoje me ocorre – minhas pernas vão se curvando, curvando, até que eu não suporte mais e me deite no solo, evitando de uma vez por todas o olhar desse céu que está ali para me amedrontar.

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