terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Vinho


Violáceo, com mesclas de samambaia e groselha. Concentrado, intenso e com aromas de frutas vermelhas. Outras horas, aromas outros, de trufas, tabaco, e levemente amadeirado.

Uma vez aberto, efluem aromas, sabores, emoções.

Sempre acompanhado de boas companhias, bate-papos, conversas de sexta-feira à noite jogadas fora, culmina como uma forma muito prática de abstração da semana que passa. Mais uma vez sufocante, corrida e abafada.

Este é tinto, brilhante, de intensidade e tonalidade fortes.

Os aromas determinam o tempo, que está escuro, pois que é noite. Uma lua se esboça por trás dos vidros da janela, determinante para efervescer os aromas daquilo que deixei de ser, durante as longas e enfadonhas jornadas de trabalho semanal [Num ambiente hostil, é inevitável a emoção se deixar à beira da vida, se é que este não-sentir é possível de existência].

O que fazer? O que sentir? O que e como ser? Todas essas perguntas, um bom vinho responde sem clemência ou lamentação, como um personal consultant que, mais que bons conselhos, aflora nos sucos gástricos reações químicas. Explosões que acendem possíveis vontades, desejos e até certa sensação de vida. Ultrapassam o inferno aos céus com vontade de criar, vontade do novo, de mudança.

Tinto, é irrequieto, jovem, secundado por uma estrutura forte e doce e, por isso, vive a comemoração do não saber o que realmente se é. Exacerba desejo de evolução, de sonho, de grandiosidade.

Pois que não são apenas adjetivos positivos para descrevê-lo tão bem, mas que de repente, acordo de uma fantasia ilustrada pelo próprio cansaço. Uma leve dor de cabeça lembra-me a noite veemente que retarda em deixar meu pensamento, e me deixa em imbróglios ao acordar, sem novamente saber por onde começar até restabelecer o ritmo apaziguador de vida. Pouco a pouco, a lembrança se incrusta, e fica o calor de espírito, diligente em deixar tudo de lado e começar mais uma vez.

10/10/2009 18:08