sábado, 6 de novembro de 2010

Que assim seja! A ordem da Esperança


Que seja o auge da melodia: a vida do transeunte

dos mundos arcaicos aos mundos viventes;

a música do amor são, das palavras dos bem vividos

e das letras e cantigas das crianças.


Que seja a verdade transparente, nos decalques

das janelas vidros perfumados de rosas cristalizadas

Pássaros cristãos que carregam água para o seu amor

Numa melodia da noite a cantiga de alegria.


Que seja triste a tristeza e alegre a alegria

Doa a insanidade e viva de saudade a maldade

No mundo que é meu, a fantasia é deus

e a realidade já não vive nos bosques escondidos,

transita entre os corpos sujos de escárnios

que buscam seu suco na água do amor

enquanto os fantasmas da velhice não chegam

cortam lenha para a esperança

vivendo aquilo em que creram e pregaram seus pais.

02/10/2010

domingo, 17 de outubro de 2010

É tanta coisa...


É tanta coisa pra pensar
pra fazer, pra dizer
pra pedir, pra te ter
pra querer, é tanta coisa

não se repara, não para
não cansa, não dança
nem sacode a poeira,
asneira, puta que pariu

é tanta coisa louca,
dependente, relacionada,
é tudo uma façanha, um desejo
um desafio, um próximo passo
e uma descoberta

não se conclui nada, a não ser viver

acendência, decadência,
progresso ou não,
a vida segue, como antes
como agora, como aquilo que será
e seguirá

É tanta coisa, que te desejo tudo
somente para não ter mais uma coisa
pra pensar.

11 de Abril 2010

sábado, 2 de outubro de 2010

Solidão


Solidão se trata de não achar semelhante, ou similar. Trata-se às vezes de querer ser esquecido. Ou talvez, de uma fantasia inusitada, que de tão longe nos deixa no ar. Solidão nem sempre é doença. É por vezes alívio, liberdade.

Quase sempre martírio. Para a alma, solidão é também pena de morte. É aquilo que a gente entende que é, no momento em que se (si?) sente. Solidão é sentimento forte.

Solidão é o que se passa qualquer dia, qualquer hora. Outrora, não se sabe quando vai embora.

23h 15/01/2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Vou onde for

Cabruêra, Mãe Diná,

Não sei onde vou parar,

Arcanjos nos céus,

Flores no mar,

Eu vou onde meu coração mandar.

17/06/2007

domingo, 5 de setembro de 2010

Além da Imaginação


Se escrever é revelar-se, ler é buscar-se. É no fundo achar o ele ou ela, que a mim se parece, se assemelha. E achar que aquele eu – este que aqui estou – também narra uma história (uma agonia?).

A leitura transforma o ser em algo mais real. Subitamente o meu irreal passa a ser inteiramente visível numa história de outrem, o meu eu fantasioso vence batalhas, namora uma princesa e vira rei; Concretiza uma façanha. Nesse momento um mundo se cria, se torna real. E quando isso acontece, entende-se: ler é buscar-se, ademais achar-se.

23/07/2010

domingo, 18 de julho de 2010

It's a Story


Once upon a time there was a powerful wizard who wanted to destroy a whole kingdom. And to do this he poured a magic potion into the well from which all the citizens drank. Anyone who tasted it would go mad. And the king... when he saw hes people so changed... he was terrified. He was prepared to leave the city but the Queen stopped him saying: Let us drink from the well, we'll be the same as they are. And so, they drank from the communal well of madness and they were immediately as insane as their subjects. And so, the King was allowed to continue ruling in peace for the rest of his days.

From the movie Veronika Decides to Die

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Fernando Pessoa e a Gramática

Meditei hoje, num intervalo de sentir, na forma de prosa de que uso. Em verdade, como escrevo? Tive, como muitos têm tido, a vontade pervertida de querer ter um sistema e uma norma. É certo que escrevi antes da norma e do sistema; nisso, porém, não sou diferente dos outros.

Analisando-me à tarde, descubro que o meu sistema de estilo assenta em dois princípios, e imediatamente, e à boa maneira dos bons clássicos, erijo esses dois princípios em fundamentos gerais de todo estilo: dizer o que se sente exactamente como se sente — claramente, se é claro; obscuramente, se é obscuro; confusamente, se é confuso —; compreender que a gramática é um instrumento, e não uma lei.

Suponhamos que vejo diante de nós uma rapariga de modos masculinos. Um ente humano vulgar dirá dela, «Aquela rapariga parece um rapaz». Um outro ente humano vulgar, já mais próximo da consciência de que falar é dizer, dirá dela, «Aquela rapariga é um rapaz». Outro ainda, realmente consciente dos deveres da expressão, mas mais animado do afecto pela concisão, que é a luxúria do pensamento, dirá dela, «Aquele rapaz». Eu direi, «Aquela rapaz», violando a mais elementar das regras da gramática, que manda que haja concordância de género, como de número, entre a voz substantiva e a adjectiva. E terei dito bem; terei falado em absoluto, fotograficamente, fora da chateza, da norma, e da quotidianidade. Não terei falado: terei dito.

A gramática, definindo o uso, faz divisões legítimas e falsas. Divide, por exemplo, os verbos em transitivos e intransitivos; porém, o homem de saber dizer tem muitas vezes que converter um verbo transitivo em intransitivo para fotografar o que sente, e não para, como o comum dos animais homens, o ver às escuras. Se quiser dizer que existo, direi «Sou». Se quiser dizer que existo como alma separada, direi «Sou eu». Mas se quiser dizer que existo como entidade que a si mesma se dirige e forma, que exerce junto de si mesma a função divina de se criar, como hei-de empregar o verbo «ser» senão convertendo-o subitamente em transitivo? E então, triunfalmente, antigramaticalmente supremo, direi «Sou-me». Terei dito uma filosofia em duas palavras pequenas. Que preferível não é isto a não dizer nada em quarenta frases? Que mais se pode exigir da filosofia e da dicção?

Obedeça à gramática quem não sabe pensar o que sente. Sirva-se dela quem sabe mandar nas suas expressões. Conta-se de Sigismundo, Rei de Roma, que tendo, num discurso público, cometido um erro de gramática, respondeu a quem dele lhe falou, «Sou Rei de Roma, e acima da gramática». E a história narra que ficou sendo conhecido nela como Sigismundo «super-grammaticam». Maravilhoso símbolo! Cada homem que sabe dizer o que diz é, em seu modo, Rei de Roma. O título não é mau, e a alma é ser-se.

25-4-1930

Livro do Desassossego por Bernardo Soares.Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição

dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do

Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982: 19.

"Fase confessional", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo

Soares, Vol II. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

“Two roads diverged in a wood, and I, I took the one less traveled by, and that has made all the difference.”

Robert Frost

domingo, 13 de junho de 2010

Foi quando ganhei um presente (pela imortalidade do bem)

Você já quis alterar o destino a tal ponto que o destino voltasse alterando você? É como se você batesse num saco de boxe e de repente o saco voltasse e batesse em você. Às vezes, isso é querer fazer o bem para que o bem volte para você mesmo. Você para, pensa, tem vontade de receber e decide fazer o bem, buscando o próprio bem. Altera o fluxo da energia.

Em não receber, termina de conceder, se esvazia. Se desgasta e quase se esvai na ambição de querer mais. Desperdiça seu potencial inerente, ingênuo em não saber selecionar, reter e demonstrar emoção nas horas certas.

Por vezes tentei: o saco de boxe nunca volta na hora esperada. O bem nunca volta quando você quer, é uma energia que flui independente da vontade de quem recebe. E esse querer o bem, é como uma carência interna, porque é, na realidade, a vontade de receber.

Quando eu era criança sabia que no dia do natal ganharia um presente. Quando cresci, queria criar um natal para ganhar presentes. Mas a vida não funciona assim. Você sempre ganha um impulso de alegria quando não espera. O movimento é retardado, às vezes antecipado, é desconexo, intermitente, dinâmico. O bem é investimento incomensurável, que não pode ser visto com os olhos da ambição, do egoísmo. É uma energia que circula onde existe espaço, onde se deixa passar, sem tempo certo.

O bem pede passagem às pessoas, são elas o canal de onde podemos receber e se doar, são onde podemos fazer brotar energia, alegria, felicidade. São elas a convicção de um mundo melhor, a prova disto é que um dia alguém chegará a você e te dirá um bom dia, te dará um presente, te olhará nos olhos ou contemplará tua beleza interior. O bem tem valor futuro infinito, está sempre circulando entre nós. Não escolhe raça, não escolhe vontade, não escolhe cor; não escolhe credo, nem mesmo teor. O bem nunca se acaba.

23:34 25Mar2010

Viver?

Não possuo talento algum para esse ofício do dia. Não entendo o que as outras pessoas querem dizer com viver, com estar no mundo, fazer parte de algo maior, de estar junto. Para mim isso não faz o menor sentido.

Quincas (http://flaubertianas.blogspot.com)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

East Coker

...

So here I am, in the middle way, having had twenty years—
Twenty years largely wasted, the years of l'entre deux guerres
Trying to use words, and every attempt
Is a wholly new start, and a different kind of failure
Because one has only learnt to get the better of words
For the thing one no longer has to say, or the way in which
One is no longer disposed to say it. And so each venture
Is a new beginning, a raid on the inarticulate

...

T.S. Eliot

domingo, 11 de abril de 2010

----------------------------------------------------------
A desculpa é uma culpa esculpida.
----------------------------------------------------------

quinta-feira, 25 de março de 2010

Validade


Validade é um prazo no tempo,

é a vida, é a hora, é o presente que passou,

expirou e você não gastou,

não usou, não aproveitou.

Passou. Ligeiramente,

Se foi.



N.A: Esse escrito expirou 3 meses atrás.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Pintando meu Mundo - As cores do Céu

A cor do céu, eu deixaria.
Azul, bem azul.
Sem muitas nuvens, brancas,
eu pintaria o céu.

Um sol de raios flamejantes.
Espalharia amarelo-
alaranjado sobre a tela.
Brincaria com sua intensidade.

Da praia eu manteria:
as ondas, a calmaria,
o bem-estar, a ventania,
a jangada e um olhar.

A areia branca, refinada,
bem difícil dispersar.
Dunas leves contra o vento,
Bege-claro eu vou pintar.

Na calçadinha, ondas de leve
Copacabana vou imitar
Você sentada aqui tão breve
Nesse lugar eu quero estar

Tempos


Tempos hoje quero antes
O dantes quero agora
São outros tempos sempre
Pois aqueles são outrora.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

De quando se cai para cima

Estou aqui, ao relento. De todos os lados há apenas uma extensão enorme por meio da qual a minha visão se confunde, turvada e desfigurada pelo nada. E para cima, tampouco, não encontro nenhuma cobertura. Nada para além do azul infinito que me ameaça absorver, como se a tudo o mais pudesse engolir com talante assustador do deus empíreo. Tenho por isso medo de mirar ao alto, da amplitude que está dentro dele e que me desnuda com esse sarcasmo aniquilador.
A sensação que tenho é bastante forte, sempre foi, para me assustar. Mantenho com firmeza meus olhos pela terra, evito a curiosidade ou tentação de encarar o que me põe a descoberto... eventualmente acabo perdendo, eventualmente eu cedo e ergo meus olhos num ângulo reto para espetar essa imensidão de pavor. Logo depois, arrependido, cheio de tremor, busco a certeza sólida do chão...
Quantas vezes aconteceu assim: deitado num gramado enorme, possivelmente uma praça, um descampado entre um bosque, passeava meus olhos pelo céu resplandecente e azul. Num dado instante, paralizo-me com a percepção daquilo. Percepção inegável e bruta de que o infinito me engolirá, ou de que cairei para cima num contra-golpe da gravidade. E chego mesmo, quase sem esforço, a sentir-me livre nesse éter de puro espaço... lentamente, meu corpo se desprega da terra, da vida, dos dias... e eu irei, num deslocamento infinito e atemporal, afundar nesse oceano de coisa alguma que deve ser o espaço.
O meu impulso imediato era o de segurar-me nas raízes do gramado, cravando com as unhas e meus dedos ainda pequenos, aquela terra que a qualquer momento poderia me abandonar ao vazio do alto...
Ou então – o que ainda hoje me ocorre – minhas pernas vão se curvando, curvando, até que eu não suporte mais e me deite no solo, evitando de uma vez por todas o olhar desse céu que está ali para me amedrontar.

Alma Querida

Lidar contigo é um pouco como lidar com um ouriço, a gente se excita pela singularidade da carapaça e pela sua forma, querendo desvendar aquilo que está dentro, e sofre a vontade de se preservar e de se ferir em nome da curiosidade insuportável.

----------------------------------------------------------

Ignoro-me deste mundo, como que precisando me escrever em palavras. Para que as lendo, eu próprio me descubra. Pois elas, as palavras, me retratam melhor que qualquer sentimento.

----------------------------------------------------------

Ouvide!


Tenho fome de não ter palavras,
De não ter o tempo de mastigá-las, elaborá-las
Me cora usá-las brutas, desse modo
Palavras tantas, tão sinceras, tão elas.
E as uso sem mistério, sem critério.

Ao fim do dia,
Foi tudo rápido.
Não me dei o tempo de deitar, chorar,
Ouvir o rasgo da palavra nao usada,
O som da letra nunca escrita,
O deboche de quem sabe que a palavra,
A palavra bem dita, bendita,
A palavra modifica, prolifica, faz faisca.

Ah, me dá um tempo!
Deixa eu falar sem falar direito,
Deixa eu exclamar essa coisa que nem conheço.

(O que nao conheço é o que me faz,
é o que toma meu tempo,
Me transforma por dentro.)

Rimas bestas!
Quero so palavras bem feitas.
Quero é palavras sentidas, não sempre ditas.
Me importa é essa agonia que me inspira,
Essa tensao que me obriga,
Nao é a balada que te nutrifica,
é so a palavra, a palavra bem dita
E ouvida.

Ouvide!

Luana Silvy (http://palavraestrangeira.blogspot.com/)

O sentimento de escrever

Por intervalos, morro

esperando aquele novo pulsar

[ de poesia.

Tento resgatar minh'alma,

que parece viva, não estar.

Reviro livros,

pessoas,

sentimentos

e pensamentos,

tudo por este impulso

que, quando vem,

me faz delirar.

E falava sobre si...

Tudo em sua vida é racional...
Não se entende nada,
apenas lógica, algo anormal.
Sentimentos? Uma intensidade,
Um mal banal.

Harry Khaine